O BBB de Karol ConKkk

Confesso, não sem alguma vergonha, que estou há 21 anos invicto de Big Brother Brasil. É a pura verdade, nunca acompanhei o reality. Mas o BBB é igual música corno, ou como a montanha para Maomé — ele vem até você. Assim, se nunca acompanhei, tampouco estou imune ao BBB (de modo que até posso chamá-lo pelo apelido, fingindo intimidade, de BBB): nomes como Kleber Bambam, Sabrina Sato e Priscila Pires não me soam nada estranhos, pelo contrário. E o fato é que ninguém está imune. De onde menos se espera, aparece um Ex-BBB. Eles estão tão impregnados ao cotidiano (ao inconsciente coletivo?) que alguns nem se lembram que são Ex-BBB’s, como Jean Wyllys. Anotem: no futuro haverá um sindicato de Ex-BBB’s (sim, com maiúscula), reivindicando, entre outras coisas, assessoria psicológica para se readaptarem ao rés do chão depois de provarem o mel orgânico da fama.  

No Brasil, a “casa aberta” estreou no ano 2000 e, de certa forma, antecipou a experiência de rede social. A gente fica vendo a vida dos outros, vivendo ou sendo vividos por eles, gozando e/ou broxando com o pau alheio. A graça, acreditávamos nós, é que era tudo verdade. Pessoas reais em situações reais, sem roteirista nem atuação. Mas, que nada. Como descobrimos depois também no dilema das redes, é capaz de ser até o oposto. Ou seja, é tudo mentira. Como nunca nenhum Gilberto Braga da vida teve coragem de imaginar. E por isso, se a lógica dos brothers e sisters antecipou a dos perfis, hoje é o tônus das redes que alimenta o BBB. A roda gira.

Aliás, reparem como está tudo invertido. Houve tempo em que Jorge Vercillo imitava Djavan e o SBT estava sempre perseguindo a Globo. Pois o BBB21 é apenas a versão global da Casa dos Artistas — em vez de anônimos confinados, semi-famosos requentados. Continuo não assistindo, mas, do que vem a mim, esse é o BBB de Karol Conká. Ou Karol ConKkk, pra enfatizarmos o internetês. A participação da cantora rende discussões sérias sobre xenofobia, racismo e, se vacilar, até veganismo digital. Tá certo. Só espero que se lembrem, os pós-doutores em BBB, que não passa de televisão. É feito para causar, dar audiência e gerar anúncios. Parece verdade, mas é novela. Ou pós-novela. Ou trans-novela. No documentário “O Dilema das Redes”, ficou todo mundo chocado ao descobrir o óbvio: que o de graça do Facebook te usa como bitcoin. Que seu arroba é igual ao de um boi. Pois a televisão sempre operou com essa lógica. E o BBB, sabiamente, se adaptou ao (algo)ritmo da coisa.

Ora, se mesmo as inefáveis discussões sobre raízes nacionais, política e música popular não passavam (embora tenham passado) de televisão, nos festivais da Record. E se Paulo Machado de Carvalho soube explorar para esse fim até mesmo os belos olhos azuis de Chico Buarque (e em preto e branco!). Imagine-se o que Boninho não pode fazer agora com a efervescência dos temas e a superficialidade dos debatentes. Soube que Karol ConKkk já perdeu mais de 100 mil seguidores. Há alguns anos, esses mesmos tinham cancelado a Netflix. Mas, parece que voltaram, para aprender no streaming sobre a lógica dos algoritmos. Tudo o que ela, ConKkk, precisa fazer é encaixar uma bela hashtag na veia para a roda girar. Nem que seja dizer que eu a associei àquele grupo psicótico de encapuzados americanos. Kkk

Fonte: Metro 1

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