Tá tudo cancelado! Como a cultura sobreviverá ao coronavírus? Show em todo mundo são cancelados

Setor que depende essencialmente do público, e envolve milhares de pessoas ao longo da sua cadeia produtiva, a cultura foi um dos primeiros a entender a gravidade da pandemia e cancelar eventos, interromper gravações, adiar estreias…

Na Bahia, o movimento foi anterior à determinação dos poderes públicos, que só começou a tomar medidas mais efetivas no último sábado. A prefeitura de Salvador, por exemplo, anunciou que estavam proibidos, por tempo indeterminado, todos os eventos e atividades para mais de 500 pessoas. A partir de hoje, o funcionamento dos cinemas também estará suspenso na cidade – a medida vale por quinze dias. 

Prevenção
A reação antecipada do setor visou atender a uma das recomendações básicas dos profissionais de saúde: evitar aglomerações. 
“Sempre acho que a comunidade artística é a primeira a reagir a muitas coisas. A cultura reflete, e também lança tendências para nosso comportamento”, comenta Fabiana Batistela, empresária do ramo da música e diretora da SIM São Paulo, uma das feiras de negócios da música mais importantes do país. 

Na semana passada, viralizou nas redes sociais uma recomendação simples postada pelo evento:“Se você tinha ingressos para shows ou eventos cancelados por conta do coronavírus, por gentileza, considere aceitar o adiamento do ingresso em vez de pedir o reembolso agora”.

Apesar dos inúmeros compartilhamentos da postagem, não é possível garantir o quanto a sugestão foi acatada. “Não sei se freou os pedidos de reembolso, mas avisos como esses sempre são bem-vindos. Todo mundo tem que se mobilizar, e se segurarmos um terço dos ingressos já ajuda bastante”, calcula Batistela.

Inspirado nesta onda de solidariedade, o CORREIO lança  a campanha Salvador Unida, que vai estimular, registrar e divulgar ações de pessoas ou empresas que queiram fazer a diferença. 

“Estamos vivendo um momento muito difícil, mas é também nestas ocasiões que as atitudes solidárias podem mudar o curso da história. O jornal vai incentivar, por exemplo,  que as pessoas não peçam o  reembolso dos ingressos”, afirma Linda Bezerra, editora chefe do jornal.  A campanha terá ponto alto na edição de fim de semana do CORREIO que circula nos dias 28 e 29 de março, data de aniversário de Salvador.

 
Preocupações

A compreensão é de que a postura individual, aliada a outras ações coletivas e governamentais, pode ajudar a minimizar os prejuízos inevitáveis (e até então inestimáveis). Empresários e  produtores culturais ouvidos pelo CORREIO compartilham da opinião.

O jornalista Luciano Matos, idealizador e produtor do programa Radioca e do festival de mesmo nome, não esconde a preocupação, que não é exclusiva do ramo. “O baque vai ser imenso. As áreas de turismo, de cultura, e de serviços informais vão sofrer demais, porque elas já vivem tentando pagar suas próprias contas”, avalia.

E sugere um exercício rápido. “Se no dia a dia a maior dos espaços culturais funcionam para se sustentar, imagina se eles fecham todos os dias? Uma casa de show que pague aluguel, que tenha trabalhador com carteira assinada, que tem contas fixas, não vai deixar de pagar por isso, mesmo fechada”, pondera. Por isso, para ele é necessário que o poder público comece a seguir o exemplo de outros países.

(Foto: Divulgação/ Secom)

Na Alemanha, o Ministério da Cultura prometeu assistência financeira a instituições de arte afetadas pelos impactos econômicos do coronavírus. Em Nova York, nos EUA, galerias de artes estão entre as pequenas empresas elegíveis para receber empréstimos — sem juros — e doações em dinheiro do governo da cidade, desde que demonstrem que suas vendas caíram em 25% ou mais desde o surto. 

“Em todo mundo, temos visto cidades diminuindo impostos, entrando com crédito, pensando soluções junto aos artistas, e é isso que tem que acontecer aqui”, argumenta, ao sinalizar que a inexistência de dados relativos ao prejuízo dificultam a negociação.

Até quando?
Além de não haver estimativas do impacto financeiro, também não se sabe até quando o efeito coronavírus será sentido. De acordo com pesquisadores, o pico da Covid-19 no Brasil acontecerá entre os meses de abril e maio. Por isso, no Nordeste, a preocupação já é com o São João, e no quanto uma das maiores festas da região poderá ser afetada. 

“O mercado está tenso! Muitos eventos cancelados, inluindo o Forró das Antigas, que aconteria em Salvador, e os festivais de forró que aconteceriam em Itacaré e Lençóis na Semana Santa. Há uma apreensão muito grande com a festa de São João propriamente dita, porque uma banda de forró de grande porte leva pelo menos 20 pessoas na equipe e roda dezenas de cidades nesse período. Se a previsão do pico do coronavírus se concretiza, os artistas serão hospedeiros e transmissores”, disse um empresário do forró que preferiu manter anonimato.

Se o período junino costuma ser o momento de fazer uma grana extra para quem mora em cidades pequenas do interior, este ano a conta pode não fechar. “Uma cidade que faz um São João grande envolve de 500 a 700 pessoas trabalhando diretamente no São João. Outras 3 mil no trabalho informal e de serviços. Se você pega 20 cidades, são 80 mil empregos. Se pensa em 200 municípios, são quase 1 milhão de pessoas sem gerar renda num período que já é de crise muito forte”, dimensiona.

Criatividade
Com tantos shows e festivais cancelados ou adiados mundo afora, artistas estão usando as redes sociais para fazerem apresentações ao vivo, sem que eles e os fãs tenham que sair de casa.  Dentre os que já experimentaram o formato estão Tereza Cristina, Coldplay, Miley Cyrus. “Não dá para compensar totalmente, mas talvez dê pra amenizar”, aposta Luciano Matos.

Especialista em em economia da cultura, o professor Leandro Valiati, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, chama atenção justamente para como as tecnologias de informação e comunicação vão ocupar um espaço privilegiado no âmbito dos mercados culturais.“Olhando para futuro próximo, essa pandemia que a humanidade está enfrentando talvez provoque mudanças estruturais no perfil de consumo cultural”, disse ele em entrevista recente ao jornal O Globo.

Para o cineasta Cláudio Marques, diretor do Espaço Itaú Glauber Rocha, isso já vem se delineando há um tempo, e é o momento de a sociedade se dar conta para os perigos implicados nessa barata e sedutora oferta de gigantes de streaming.

“Temos artistas, empresas, produtores que precisam ser valorizados. Não podemos ceder nosso patrimônio cultural para fora. Parece um discurso antigo, mas é cada vez mais urgente e evidente. O monopólio de espaços, sejam virtuais ou reais, não é saudável. Essa é uma campanha cotidiana, precisamos sensibilizar as pessoas”, comenta ele, que manteve o cinema aberto até ontem, e neste fim de semana teve de cancelar uma sessão em pleno fim de semana por falta de público.

Em meio a incertezas e expectativas, só uma coisa é certa: a solução é coletiva!
 

ATENÇÃO!
Público com ingressos já adquiridos deve verificar as políticas de devolução específicas do ponto de vendas ou plataforma utilizada para a compra, ou diretamente com a produção dos eventos.  

EVENTOS ADIADOS

Forró das Antigas Evento que aconteria no dia 4 de abril, no Wet’n Wild, foi adiado e não tem nova data

Festival Internacional de Artistas de Rua16ª edição do evento acontece de 12 a 21 de novembro nas cidades de Salvador, Senhor do Bonfim e Morro do Chapéu.

Festival de Lençóis Previsto para acontecer de 30 de abril a 02 de maio, foi transferido para o período de 09 a 12 de outubro.

Zona Mundi Evento que aconteceria este fim de semana no MAM foiadiado para os dias 8 e 9 de agosto

Mariene de Castro e Almério Apresentação aconteria no TCA neste domingo, e vai ser reagendada

O Lollapalloza Brasil, um dos maiores festivais do país, inicialmente previsto para acontecer entre os dias 3 e 5 de abril, em São Paulo, foi remarcado para 4 a 6 de dezembro. A organização do festival garantiu que as principais atrações (The Strokes, Guns’n’Roses e Travis Scott) estão confirmadas no final do ano.

Fonte: Correio 24h

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