Pai de cinco filhos, Murilo Becker tem história digna de filme


Sonho, sustos, aposta. Uma filha, quadrigêmeos e muita luta. A história da família do jogador de basquete Murilo Becker, do Universo/Vitória, é digna de filme. Drama e reviravolta regem o enredo deles, que são verdadeiros colecionadores de milagres.

Até 2014, o pivô Murilo e sua esposa, Patrícia, formavam uma família convencional. Pais de Duda, que hoje tem 10 anos, eles sonhavam com mais um ou dois filhos. Com dificuldade para engravidar, Patrícia viu na fertilização in vitro uma saída.

“Foi tudo muito rápido. Já queríamos ter mais filhos, mas ela me deu um susto”, brinca Murilo. Patrícia explica. “Falei com ele que uma apresentadora de TV tinha feito o tratamento e engravidou na primeira tentativa. Murilo disse ‘podemos ver um dia’. Como sou ansiosa, no dia seguinte fui na clínica, paguei o tratamento e comprei os remédios. Ele chegou em casa pirado, perguntou o que era aquele gasto no cartão. Achou que a gente ainda ia conversar”, diz ela, que entrega que perda de tempo não faz parte do casal. Três meses após o primeiro beijo, casaram.

No dia de colocar os embriões, Patrícia pediu que o médico implantasse três, mas ele disse que só colocaria dois. Diante do impasse, o destino daquela gravidez ficou nas mãos de Murilo, literalmente. “Eu estava jogando a Sul-Americana, fora do país, e eles decidiram fazer uma aposta”, lembra o pivô.

“Eram dois embriões perfeitos e um muito ruim, com 5% de chance de vingar. Como não chegamos a um acordo, decidimos fazer uma aposta. O médico disse que, caso Murilo fizesse uma cesta de três em 15 minutos de jogo, ele colocaria os três embriões. Murilo não é chutador de três e 15 minutos no basquete não é nada. No primeiro lance do jogo, ele arremessou e fez uma cesta de três. A culpa é dele”, brinca Patrícia.

A vontade de ser mãe era tão grande que todos os embriões vingaram. E mais: um duplicou. Com menos de um mês de gravidez, a família fez a primeira ultrassom. “O médico disse que não dava pra ver nada, a gente não sabia se tinha um bebê ou dois, mas eu insisti porque faria uma viagem longa para o Sul”, conta Murilo. Foi aí que veio o susto.

Durante o exame, o médico avisou: “são trigêmeos”. A notícia fez o grandalhão de 2,08m tremer. “Fiquei em choque. Pensei ‘o que eu vou fazer?’. A gente já tinha Duda, eram quatro faculdades. Os caras brincavam dizendo que a gente teria as trigêmeas da Playboy. Eu estava desesperado já, mas sempre tive o sonho de ser pai. O padrão de vida muda, mas nunca vai faltar nada. A gente trabalha, luta”.

Com gravidez de risco, Patrícia teve o primeiro sangramento durante essa viagem e ficou internada. Ao deixar o hospital, fez um novo exame, para saber se tinha perdido os bebês. Pelo contrário: “ganhou” mais um. “Quando ela fez a ultrassom, eu falei: ‘eu tô vendo quatro cabeças?’. E o médico disse que sim. Fiquei surpreso”, relata Murilo.

O nascimento
Após uma gravidez difícil, em que Duda e Patrícia inverteram os papéis, nasceram os quadrigêmeos. “Duda cuidava de mim. Me dava comida, me ajudava a fazer xixi. Foi muito difícil pra mim ver minha filha, tão nova, sendo uma mãe. Mas eu só tinha ela. Murilo estava viajando, jogando”, afirma Patrícia.

Rafaella, Maya, Gabriel e Leonardo nasceram prematuros, aos sete meses, todos  com paralisia cerebral, cada um em um grau. Graças a um árduo trabalho de fisioterapia e terapia ocupacional, todos seguem em evolução e apresentam apenas pequenas limitações motoras. A primeira a contrariar os médicos foi Rafaella, que já anda e exibe suas unhas pintadas por aí.

Cheios de fé, Murilo e Patrícia agora aguardam os outros três filhos darem os primeiros passos. “Existe uma limitação física, mas não falamos muito sobre isso. Não que a gente esconda, mas é que, para a gente, eles não têm nada. Tem uma limitação motora maior na Maya, que usa a cadeirinha, mas ela conversa normal, responde tudo o que perguntamos. São crianças normais”, diz Murilo.

Orgulhosa da evolução dos filhos, Patrícia conta um pouco da rotina dos pequenos. “Rafa, que é nível 1, já anda. Léo, nível 2, está quase lá. Gabriel, nível 3, vai começar essa evolução. Cada hora a gente dá preferência para intensificar o trabalho em um. Para os médicos, Maya, que é nível 4, não vai andar. Mas para fisioterapeutas, que pensam como eu, ela vai. Eu acredito em milagres e sei que ela vai. Isso depende de mim, de terapias. E, se depende de mim, ela vai conseguir”, diz a mãezona, que tem o nome da primogênita tatuado no pé.

Há dois meses, a família Becker tomou mais um susto. Patrícia foi ao médico para pedir um atestado dando condições à sua filha, Rafaella, de fazer natação. Ao fazer a bateria de exames, ela descobriu que, por pouco, a menina não perdeu a vida. “Fui fazer exame, aí a médica: ‘Deus, né, mãe?’. Não entendi e ela disse: ‘graças a Deus que sua filha está viva, né? Porque ela não tem mais circulação da cintura para baixo. Se não operar em três meses, ela morre’. Foi tudo rápido, mas graças a Deus ela se recuperou rápido”, conta a mãe. Logo no início da vida, Rafaella passou por uma cirurgia na cabeça.

A menina, que ganhou o apelido de Coração de Ouro, tem uma cicatriz na cabeça, totalmente coberta pelos cabelos lisos e castanhos, e uma nas costas. Marcas de quem lutou pela vida e venceu. Típico de uma integrante da família que coleciona milagres.

Fonte: Correio 24h
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